Lembra-te de mim

Ele caminhava de malas feitas, ela acompanhava-o até à estação de comboios. A decisão estava tomada.
Quando chegaram à estação, ela perguntou com uma tremura na voz que revelava uma clara e profunda tristeza:
- Vais mesmo não é?

- É - respondeu-lhe ele, de uma maneira quase imperceptível.

Olharam um para o outro com um olhar húmido e infeliz de quem iria abandonar ali, naquele local, toda a sua razão de viver.

Um beijo soltou-se, um intenso e demorado beijo soltou-se, talvez aquela fosse a última vez que ele sentiria os seus lábios finos e delicados, .

Permaneceram ali, parados, agora de mãos dadas, concentrados no olhar de um e de outro, sem pronunciar uma única palavra, ambos sabiam o que sentiam, ambos sentiam o que um e outro sentia, palavras para quê? Os seus pensamentos já há muito se tinham cruzado.

Não sabiam se iria ser a última vez que se voltariam a ver ou se os seus destinos se alguma vez mais, se voltariam a cruzar. Era nesta dúvida que iriam viver a partir de agora assim que o apito do comboio soasse nos seus ouvidos.

Continuaram imóveis, sem pestanejar até que o apito se fez ouvir, avisando que o comboio estaria pronto a partir e para os passageiros que ainda se encontravam fora irem entrando.

Ele agarrou nas suas mãos, elevando-as contra o seu peito e disse num tom desesperado e destroçado:

- Vou ter que ir, prometo que nunca deixarei de te am...

Ela interrompeu-o, tinha agora uma lágrima a escorre-lhe pelo rosto, apertou a sua mão com mais força e disse:

- Não quero que digas nada, não digas mais nada. A única coisa que te peço é para te lembrares de mim, lembra-te de mim, e agora vai antes que percas o comboio!

Largaram as mãos, ele pegou nas malas e olhou-lhe uma última vez antes de entrar para o comboio, parecia-lhe ainda mais bonita do que o costume.

Ela ficara ali, a ver o comboio a afastar-se, e com o rosto invadido pelas lágrimas, suspirou : Lembra-te de mim!

E ele partiu.